Minha prateleira

sábado, 17 de julho de 2010

[Conto 3] Sobrenome

Aaaaahhhh, ontem à noite. Que noite. Talvez eu tenha tomado um pouco demais do meu veneno. Eu nem pensei. Quando o vi entrando por aquela porta grande demais pro meu gosto, nem pensei. Aqueles perseguidores olhos verdes. Verdes demais pro meu gosto. E aquela boca, huh? Tão apetitosa...

Mas não me lembro nem do sobrenome dele. Seu nome era Jacob, mas ele se apresentou como Jake. E essa palavra ficou na boca a noite toda... A cada toque, a cada suspiro, a cada movimento... Noite passada me servi um pouco demais do meu veneno e nem pensei. Nem conseguia com olhos tão verdes me seduzindo, me desejando...

Era pra ser apenas uns amassos pra matar o tédio naquela festa chata. Ainda bem que não foi só isso. Melhor noite que a que eu tive ontem nunca mais terei. Sei que você deve tá pensando que posso repetir a noite passada. Não, não posso. Acabei perdendo o número dele e se, por algum milagre, ele ainda tem o meu, não creio que vá ligar.

Ele só tinha um defeito: a esposa. Não sei como uma mulher tem a sorte de ter um homem daqueles na cama e aparentemente não dá conta do recado. Ah, como ele parecia insatisfeito... Tomara que ele tenha se satisfeito ontem à noite com eu, assim, quem sabe, ele pode me ligar, mas nem tenho esperanças.

Ontem à noite... Ah, como eu queria que ontem à noite nunca acabasse. Mas acabou e agora tenho que seguir em frente, mesmo sabendo que nunca mais terei uma noite daquelas. Ahh, ontem à noite. E minha mãe ficaria muito, muito, muito envergonhada se soubesse. Ohh, se ficaria...

Ainda pensando nele, meu telefone toca. Minha mente louca pensar por um segundo que poderia ser ele. Não, não acho. Mudando de idéia, rapidamente atendo nem vendo qual o número. Ops. Me dei bem.


terça-feira, 6 de julho de 2010

[Conto 2] Viciada...

Eu não. Juro. Não queria ficar viciada nele, mas foi ele que fez isso comigo. Me controlando, me julgando, sendo eu... Eu era tão nova, tão boba, tão viciada nele... Tão inocente e aceitei tudo que ele impôs pra mim silenciosamente. Tão silenciosamente que não ouvia nem minha respiração. Tão... não eu...

Eu tentei. Juro. Eu tentei não cair em tentação toda vez que ele chegou perto de mim, mas era inevitável. Algo me puxava para ele. Algo verdadeiramente mau me puxava para ele. Ele era minha droga. Ele era o medo que não podia enfrentar. Eu estava presa.

E eu sei que nunca terei uma companhia assim. Eu não podia respirar sem ele aqui, e eu deixei ele ter todo o controle. Era nada... só ele... somente ele... Não podia fazer nada. Ele sempre estava me consumindo. E deixei isso acontecer por muito mais tempo do que imaginei. Nunca conseguirei pensar por mim mesma. Eu sei disso.

Ele me provou isso. Até hoje ele me interrompe, nos meus pensamentos, nos meus sonhos... Não posso mais ser concertada. Eu era nada antes dele e me tornei pior que isso agora que ele me superou. E eu ainda estou viciada nele. Tão viciada e tão abstinente.

Não deveria ser assim. Ele me prometeu que não seria e, mesmo assim, foi. Não tenho certeza sobre o que aconteceu, não mesmo. Não sei quando começou e não sei quando vai terminar. Só tenho uma certeza: é ele que vem na minha direção agora, depois de tantos anos.

Ainda com o mesmo sorriso confiante, com os mesmos cabelos lisos esvoaçantes, com os mesmos olhos tão verdes que causam inveja até à mais verde folha da árvore que um dia deitamos juntos. O que ele está fazendo aqui? Não sei, e sinceramente, não quero saber.

No fundo, há algo vivo dentro de mim que ainda clama por ele. Algo que sei que ele pode despertar a qualquer momento, mesmo agora enquanto conversamos amigavelmente e ele me apresenta sua esposa e filho. "Somos velhos amigos", ele diz. Fecho os olhos e abaixo a cabeça, depois desisto e levanto rapidamente. 

Se é pra ser assim, então, assim permanecerei: amiga e viciada nele.



[Conto 1] Adam Johnson

Eu disse à ele. Eu disse que era insaciável, disse que não era mulher pra ele. Adivinhem: ele não me ouviu. Não era a primeira vez, e não seria a última. E pior de tudo: eu gostava da insistência dele. Adoro ver homem correndo atrás de mim. Adoro me fazer de difícil, apesar que com ele as coisas eram um pouco diferentes.

Eu poderia ir e vir, ele sempre estava lá. Ele sempre estaria, não importa as burradas que eu fazia, não importa as vezes que o traí, que o decepcionei. Eu sempre voltava pra ele, e ele sempre estava lá, de braços abertos. Até o dia que deixei ele pra valer.

Eu tinha 18; ele tinha 30. Grande diferença, mas no final nem tanta. Eu tinha namorado; ele não tinha ninguém. Vivíamos bem, com nossos segredos, nossas semelhanças, nossos desejos. Ele pensou que eu era completamente dele. Eu tinha meu próprio apartamento, e ele vivia por lá... Meu namorado também.

Um dia, ele pegou eu e meu namorado na cama. Nem preciso falar que ele ficou realmente puto comigo. Ele me perguntou se eu me importava com ele, e disse que sim. Ele não acreditou. Meu namorado tinha 1,80m. Adam o matou. Ajudei ele - Adam - com o corpo. Eu não gostava mesmo do meu namorado, era pura aparência.

A polícia descobriu sobre o assassinato. Fugimos. Adam foi pego, mas não me dedurou. Devia uma à ele.

Dois anos e duzentas garrafas de vinho depois, nos encontramos. Parecíamos estranhos. E éramos. Ele estava diferente. Muito diferente. Ele me disse que não se importaria se iria ver meu rosto novamente. Nós voltamos a nos encontrar na surdina. Eu sabia que eu voltaria para ele, e ele para mim.

Mas eu também não me importava se veria o rosto dele novamente. Mas, ao mesmo tempo, eu precisava dele. Precisava sentir ele, ter ele por perto. Ter medo é natural, e sempre que eu tinha medo no passado, era ele que levava meu medo embora.

Agora não faço idéia de onde ele esteja. Talvez só tenha saído pra comprar o vício dele, ou talvez esteja matando o vício dele, ou talvez apenas tenha ido embora... Ele é imprevisível. Por isso eu amo ele. É impossível não amar.