Minha prateleira

terça-feira, 6 de julho de 2010

[Conto 1] Adam Johnson

Eu disse à ele. Eu disse que era insaciável, disse que não era mulher pra ele. Adivinhem: ele não me ouviu. Não era a primeira vez, e não seria a última. E pior de tudo: eu gostava da insistência dele. Adoro ver homem correndo atrás de mim. Adoro me fazer de difícil, apesar que com ele as coisas eram um pouco diferentes.

Eu poderia ir e vir, ele sempre estava lá. Ele sempre estaria, não importa as burradas que eu fazia, não importa as vezes que o traí, que o decepcionei. Eu sempre voltava pra ele, e ele sempre estava lá, de braços abertos. Até o dia que deixei ele pra valer.

Eu tinha 18; ele tinha 30. Grande diferença, mas no final nem tanta. Eu tinha namorado; ele não tinha ninguém. Vivíamos bem, com nossos segredos, nossas semelhanças, nossos desejos. Ele pensou que eu era completamente dele. Eu tinha meu próprio apartamento, e ele vivia por lá... Meu namorado também.

Um dia, ele pegou eu e meu namorado na cama. Nem preciso falar que ele ficou realmente puto comigo. Ele me perguntou se eu me importava com ele, e disse que sim. Ele não acreditou. Meu namorado tinha 1,80m. Adam o matou. Ajudei ele - Adam - com o corpo. Eu não gostava mesmo do meu namorado, era pura aparência.

A polícia descobriu sobre o assassinato. Fugimos. Adam foi pego, mas não me dedurou. Devia uma à ele.

Dois anos e duzentas garrafas de vinho depois, nos encontramos. Parecíamos estranhos. E éramos. Ele estava diferente. Muito diferente. Ele me disse que não se importaria se iria ver meu rosto novamente. Nós voltamos a nos encontrar na surdina. Eu sabia que eu voltaria para ele, e ele para mim.

Mas eu também não me importava se veria o rosto dele novamente. Mas, ao mesmo tempo, eu precisava dele. Precisava sentir ele, ter ele por perto. Ter medo é natural, e sempre que eu tinha medo no passado, era ele que levava meu medo embora.

Agora não faço idéia de onde ele esteja. Talvez só tenha saído pra comprar o vício dele, ou talvez esteja matando o vício dele, ou talvez apenas tenha ido embora... Ele é imprevisível. Por isso eu amo ele. É impossível não amar.




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