Minha prateleira

terça-feira, 6 de julho de 2010

[Conto 2] Viciada...

Eu não. Juro. Não queria ficar viciada nele, mas foi ele que fez isso comigo. Me controlando, me julgando, sendo eu... Eu era tão nova, tão boba, tão viciada nele... Tão inocente e aceitei tudo que ele impôs pra mim silenciosamente. Tão silenciosamente que não ouvia nem minha respiração. Tão... não eu...

Eu tentei. Juro. Eu tentei não cair em tentação toda vez que ele chegou perto de mim, mas era inevitável. Algo me puxava para ele. Algo verdadeiramente mau me puxava para ele. Ele era minha droga. Ele era o medo que não podia enfrentar. Eu estava presa.

E eu sei que nunca terei uma companhia assim. Eu não podia respirar sem ele aqui, e eu deixei ele ter todo o controle. Era nada... só ele... somente ele... Não podia fazer nada. Ele sempre estava me consumindo. E deixei isso acontecer por muito mais tempo do que imaginei. Nunca conseguirei pensar por mim mesma. Eu sei disso.

Ele me provou isso. Até hoje ele me interrompe, nos meus pensamentos, nos meus sonhos... Não posso mais ser concertada. Eu era nada antes dele e me tornei pior que isso agora que ele me superou. E eu ainda estou viciada nele. Tão viciada e tão abstinente.

Não deveria ser assim. Ele me prometeu que não seria e, mesmo assim, foi. Não tenho certeza sobre o que aconteceu, não mesmo. Não sei quando começou e não sei quando vai terminar. Só tenho uma certeza: é ele que vem na minha direção agora, depois de tantos anos.

Ainda com o mesmo sorriso confiante, com os mesmos cabelos lisos esvoaçantes, com os mesmos olhos tão verdes que causam inveja até à mais verde folha da árvore que um dia deitamos juntos. O que ele está fazendo aqui? Não sei, e sinceramente, não quero saber.

No fundo, há algo vivo dentro de mim que ainda clama por ele. Algo que sei que ele pode despertar a qualquer momento, mesmo agora enquanto conversamos amigavelmente e ele me apresenta sua esposa e filho. "Somos velhos amigos", ele diz. Fecho os olhos e abaixo a cabeça, depois desisto e levanto rapidamente. 

Se é pra ser assim, então, assim permanecerei: amiga e viciada nele.



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